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Em entrevista, a atriz Déborah Secco conta como foi interpretar Bruna Surfistinha no cinema. |
Pergunta clássica: O que Bruna Surfistinha e você, Deborah Secco, têm em comum? “Nada. A não ser o fato de que nenhuma das duas foi a garota mais popular do colégio. Eu era a magrela que queria ser atriz e faltava muito às aulas”, responde uma guerreira Deborah à reportagem, em sua derradeira conversa com a imprensa antes da pré-estreia em São Paulo, na última terça-feira, dia 22. O filme estreia nesta sexta-feira, dia 25, nos cinemas de todo o País.
Deborah resistia bravamente à batelada de perguntas sobre sua jornada pela vida de Raquel Pacheco, a “garota de programa mais famosa do País”. Talvez Deborah não esteja tão certa quando afirma que não tem nada a ver com a personagem do filme dirigido pelo estreante Marcus Baldini. Papel que, como a atriz reconhece, é um divisor de águas na sua carreira.
E é a própria Deborah quem deixa escapar um dos pontos em comum entre Bruna, Raquel Pacheco e todas as mulheres do mundo: “É a jornada da menina que se torna mulher. Que mulher, em algum momento da vida, não se expôs para se afirmar, para ser aceita. A gente se descobre mulher, mas, ao mesmo tempo, pode começar a se autoflagelar para agradar, para receber amor”.
Como você trabalhou essa dualidade da personagem?
Déborah: Foi sempre delicado. Ao mesmo tempo que a mulher pode sentir prazer em ter poder de atração, ela pode se deteriorar por se vender. É sempre uma relação de prazer e dor. Nunca de prazer pleno.
E essa dor não tem só a ver com a garota de programa, mas com a busca por aceitação.
Déborah: Exato. Não é a Bruna. É a mulher. Por isso choro várias vezes vendo o filme. Acho que até nós, mais velhas, buscamos amor o tempo todo. É uma busca desmedida que não nos supre. Eu mesma quantas vezes já me expus buscando aceitação?
"Bruna Surfistinha", apesar das cenas de sexo, é filme para mulher?
Déborah: É sim. Para me ver nua, não precisa ir ao cinema, é só dar um google. As mulheres se identificam com ela porque sentem a dor física. Imagine o que é ter cinco, seis homens em cima de você todo dia. Por mais que tenha pesquisado, conversado com garotas de programa, nunca vou entender a dor delas. Para mim parece um terror, mas para essas meninas, é como se já se anestesiassem.
E chegam a sofrer de stress pós-traumático.
Déborah: Pensei muito nisso. Em como isso deve voltar depois de uns anos. Quando fiz pesquisa na região da Luz, conheci senhoras de 70, 80 anos fazendo programa. E vi que o que é errado para mim é o que ela consegue fazer para sustentar um filho. Que direito tenho de falar: “Não faça”? As pessoas não são o que querem ser. São como conseguem. E isso é triste. E eu parei para pensar que também não sou o que quero. Sou o que consigo. Somos o melhor que conseguimos ser. E se o filme servir para que Raquel volte a falar com a mãe dela, vai ter valido a pena.
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