quinta-feira, 24 de maio de 2012

DOS 14 MIL PILOTOS DE AVIAO NO BRASIL. 937 SAO MULHERES.




A GAUCHA  KITTY KNEVITZ BIDONE E UMA DAS LADYS QUE COLOCA NO AR OS PASSAROS  
COLORIDOS DE NOSSAS COMPANHIAS AEREAS BRASILEIRAS. 

 A fragrância do 212 Carolina Herrera parte da cabine de comando do Let 410, indicando presença feminina no recinto. O aroma parte da pele clara de Kitty Trisch Knevitz, 23 anos, uma copiloto de madeixas loiras e olhos azuis.


Desde setembro de 2010, a gaúcha de Bom Jesus, com família radicada em Pelotas, voa pelos céus de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo em aeronaves de selo NHT. Senta à direita do comandante, auxiliando na operação do cérebro do Let 410, apto a receber 19 passageiros. Maquiada, unhas vermelhas, perfumada, Kitty confere feminilidade a um ambiente predominantemente masculino. Das 14 mil licenças emitidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apenas 7,5% são para mulheres – 937 pilotos e 115 copilotos. Na NHT, Kitty é a única.


— Os passageiros costumam achar que sou a comissária de bordo — ri.


A aviadora faz parte de um time de gaúchas que labutam em cabines de comando pelo país. Nas andanças por aeroportos, a vaidade é o meio de quebrar a linha masculina do vestuário, ditada por camisas, calças e sapatos sociais. No inverno, a copiloto ainda adota o blazer e a gravata.


— Não abro mão de andar bem arrumada. Só não adianta estar enfeitada e não saber executar os comandos no avião – defende a loira, que se enamorou pela vida nos ares em 2005.


Aos 17 anos, Kitty desistiu do Direito, trocou Pelotas por Porto Alegre e, em quatro meses, já era comissária de bordo. Entre Caxias do Sul e Eldorado do Sul, a troca de trabalho em aeroclubes por horas de voo ajudou a custear a formação de piloto, concluída em 2008. Habilitada, a gaúcha testou sua paciência. No ano passado, antes de ingressar na NHT, topou uma vaga de comissária. Passou a “morar na mala”, onde acomoda roupas, cosméticos, carteira, pertences. Tudo adquirido em dose dupla.


— Se compro um creme, é um para casa e outro para a mala. É o jeito de lidar com as viagens – explica Kitty, que, a cada semana, dorme em média apenas dois dias em seu apartamento em Porto Alegre.


Na agenda de voos, de mala em punho, a copiloto pode ser vista em aeroportos de capitais, mas também do interior gaúcho, como Santa Maria, Uruguaiana, Passo Fundo, Rio Grande e Pelotas, paradas que já lhe concederam 600 horas de voo. Em mais um ano e meio, Kitty espera ter quilometragem para ser uma comandante – atenta e detalhista, como prega a cartilha feminina.


— Nas brincadeiras, dizem que aviação é coisa de homem. Discordo. Mulher é cuidadosa, cautelosa. O avião precisa descer suave, tocar o chão com a delicadeza de uma mulher – graceja.


Persistência e malabarismo aéreo


Com 7 mil horas de voo na carreira, a pelotense Luciana Carpena, 43 anos, ocupa o assento da esquerda na cabine do ATR: comanda o turboélice da Trip Linhas Aéreas. Passadas duas décadas nos ares, a gaúcha desfruta de uma carreira gestada na adolescência, fruto de um flerte inesperado. Aos 18 anos, acompanhou o tio, piloto de um jato, em um voo de Pelotas a São Paulo. Apaixonou-se e abriu a rota até se tornar a Comandante Carpena. Experiente, não pede regalias em relação aos pilotos homens, só o mesmo tratamento:


— Minha responsabilidade para levar com segurança os passageiros é a mesma de um homem. Se eu assumir a aeronave e cumprir a missão, está ótimo.


Copiloto da Azul Linhas Aéreas Brasileiras, Caroline Damé da Silva, 29 anos, compactua da ideia. Com 4 mil horas de voo, aprendeu a lidar com o que considera um preconceito velado.


— Temos que provar sempre que somos capazes de cumprir com as nossas obrigações. Muitos passageiros se surpreendem com uma mulher no comando, mas a surpresa é positiva, vem carregada de elogios — diz.


Natural de Encruzilhada do Sul, Caroline vive em São Paulo, assim como Luciana. As duas creditam o sucesso à persistência. Como os cursos são caros, trabalharam para ajudar nas despesas. Luciana ainda precisou se afastar duas vezes ao engravidar dos filhos, hoje com 16 e quatro anos.


— É questão de saúde da mãe e do bebê. Fiquei um ano sem voar em cada gravidez – recorda a pelotense, que conta com a ajuda de babás para cuidar dos pequenos.


Casada com um comandante da Trip, Luciana vive em um jogo de folgas – quando ela descansa, o marido está no ar.




— É preciso fazer malabarismo para conciliar profissão e família — reconhece.

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