segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Moradores de favela do Rio alugam quartos para atrair turista estrangeiro
Rafael Andrade/Folha Imagem
Na laje de sua casa, Regina Cabral, moradora da favela do Cantagalo (zona sul) credenciada em projeto para abrigar turistas


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO 

A favela do Cantagalo começará a receber turistas estrangeiros neste Réveillon. A chegada de três visitantes é o primeiro passodo projeto de um "Bed and Breakfast" (cama e café-da-manhã) no morro de Ipanema, zona sul do Rio, idealizado pelo empresário e fotógrafo Daniel Plá e pela arquiteta Mirian Gleitzmann.
Segundo Plá, o foco do projeto é atrair turistas estrangeiros. "Queremos os franceses, de preferência, e já estamos em contato com o consulado da França. O francês sempre respeitou a questão social e tem fascínio pelo Brasil", disse.
Para o empresário, é recomendável também que o turista seja jovem. A subida íngreme da favela exige fôlego e disposição. "O projeto é voltado para o turista descolado que quer aproveitar a praia e não pretende ficar em um daqueles hotéis cinco estrelasiguais em qualquer lugar do mundo."
A favela é controlada pelo Comando Vermelho -em novembro, uma incursão policial no Cantagalo, em busca de um assaltante que havia provocado a morte de um turista italiano, causou intenso tiroteio.
Na prática, o turista terá também uma espécie de "babá", por questão de segurança. Para circular pela favela, será obrigatória a presença de um jovem com uma camiseta do projeto -o que sugere que a iniciativa foi submetida aos traficantes, o que os idealizadores negam. Se quiser sair, será preciso definir a hora de ida e volta para ser escoltado.
A hospedagem custará R$ 50 por dia, com direito a café-da-manhã com suco de laranja, mamão, pão francês e queijo minas. Inicialmente, 20 casas participarão. Os interessados em participar estão sendo entrevistados e credenciados.
Carlos Augusto da Silva, 42, um dos moradores que apóiam o projeto, afirma que os visitantes terão alternativas de lazer como feijoada, caipirinha e peixe na brasa (cobrados à parte), rodas de samba, ensaio de escola de samba e bailes funk.
"O turista vem em busca de calor humano. Ele vai numa roda de samba, senta numa birosca, bebe uma cerveja e aproveita a vista, que é muito bonita", afirmou.
As casas têm vista para o mar. A idéia é estender o projeto para a favela vizinha, Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.
Regina Cabral, 57, uma das moradoras credenciadas, diz que falar com os visitantes não será problema, apesar de não saber outros idiomas. "A gente acaba se entendendo."
A acomodação conta com TV por assinatura, ar-condicionado e um quarto livre. Segundo Plá, os moradores receberão uma lista de 20 frases em inglês, francês e português para facilitar a comunicação.
Alguns moradores já estão com visitas agendadas, como Ivan Nascimento, 58, que receberá turistas alemães. "Para Réveillon e Carnaval a casa já está cheia", disse.


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